sábado, 15 de abril de 2017

Sete Hábitos para Infelicidade (Introdução)

A foto dessa reflexão ilustra bem o que iremos discutir, nos próximos dias.
Trata-se da construção da fundação de uma residência, de seu alicerce. As madeiras funcionam como moldes, fazendo uma espécie de caixa na qual o concreto será depositado, entre ferros.
Quando o concreto secar, elas serão retiradas, e o alicerce estará firme. Hábitos são assim, como essas formas de madeiras, são moldes que nos dão segurança, que nos capacitam à ação, perante uma situação que vivemos.
Ou seja, os hábitos moldam em nós padrões de comportamento, rotinas, manias, costumes que visam, no limite, simplificar, racionalizar ou padronizar nossa existência. São importantes resultados de aprendizados, pois sedimentam valores culturalmente e socialmente compartilhados.
Contudo, nem todos os hábitos são virtuosos, positivos e que levam ao crescimento. Existem hábitos entrópicos, que roubam energia, que contribuem para a involução do ser. Para o seu não desenvolvimento.
Pense no hábito de dormir até mais tarde, aprendido nas férias. Ao retorno ao trabalho ou estudos, este hábito precisará ser desaprendido, e logo. Assim como ele existem centenas de hábitos que precisamos desaprender, dando lugar a outros mais saudáveis e que elevem nosso ser, atualizando nossa existência.
A educação é o principal vetor de renovação de nossos hábitos.
Ela nos capacita ao aprendizado de rotinas que respondam melhor às mudanças de ambiente e contexto, fundamentais ao crescimento do ser, e a uma existência plena.
Identificar os hábitos ruins, negativos, que dificultam o crescimento do bem-estar é uma questão de saúde pública.

O que me levou a conversar contigo, sobre os sete hábitos para a infelicidade, foi um email que recebi de um amigo. Nele, o amigo pedia uma orientação para um padrão de comportamento que sentia que estava criando raízes nele: o da infelicidade.

Seja no trabalho, seja no casamento, seja na relação com os filhos, seja até na relação com os amigos.
Sempre estava sentindo-se em falta, ou que faltava-lhe algo para ser feliz.

Ele me revelou que sentia uma vontade danada de partir para um lugar distante e ali descansar.
Aí liguei para o amigo. Têm coisas que precisamos da voz, ou da pele, para melhor ponderá-las.

Soube então que o sentimento de infelicidade dele aumentava quando ele postava suas insatisfações, nas redes sociais, e um coro de descontentes, como ele, as endossava. Ampliando ainda mais as suas percepções de sofrer: com votos de apoio, curtidas e comentários na mesma linha.

Para piorar, ele passou a cobiçar as vidas dos "vizinhos de rede social", para os quais ele achava que a vida não tinha problemas. Não sabia ele que ali são vidas editadas, privilegiando na edição os bons momentos.

Naquele manhã, ele acordou muito cansado de si mesmo. Estava a ponto de estourar.  A gota d´água foi uma discussão boba com sua esposa, por conta de uma tarefa doméstica sempre adiada.
No email, ele me diz que sente vontade de sair sem destino.
Lembrei-lhe do Salmista, que teve esse mesmo sentimento: "Ó quem me dera asas como de pomba! Então voaria, e estaria em descanso. Eis que fugiria para longe, e pernoitaria no deserto."  Salmos 55,6-7

Ter esses sentimentos é normal, em ocasiões da vida.  Mas, se não atacarmos o fluxo por onde eles correm, o da infelicidade, o quadro poderá se agravar derivando em depressões, ou, no extremo, em  suicídios ativos ou passivos de todos os tipos.

"Como assim o fluxo da infelicidade, Ricardim?"

Nossos sentimentos, ao longo de nossa história, vão aprendendo a correr como num leito de um rio.
A água são os pensamentos. O leito, nossos hábitos emocionais.
Não adianta querer ser feliz, conduzindo essa água pelo mesmo leito, que por anos foi esculpido na rocha de nosso ser.
Temos que mudar o leito do rio. E isso é lento, exige paciência, autocontrole, autoconhecimento e abertura ao novo. Lembro-lhe, o leito são as emoções, a água os pensamentos.
Os seja, alterar hábitos da vida exigirá um trabalho enorme.  Alterar hábitos de vida é alterar o fluxo, o leito.
Mas, garanto-lhe a mudança será da ordem de uma metanoia, uma mudança profunda, quando alteramos o fluxo, o leito.
Altere o curso do rio, remodelando a forma como habitualmente processa os pensamentos e emoções de tua vida.
Leve suas águas para outros leitos, menos pedregosos de si mesmo.

Desaprenda hábitos, ou padrões de comportamento que te conduzirão, com certeza, à infelicidade.

Como assim, Ricardim?

Amigo, durante anos somos treinados a esculpir o curso do rio de nossas emoções por leitos rochosos, pelos caminhos da infelicidade. Isto acabará por criar hábitos - hábitos são padrões de comportamento aprendidos.
Quem nos treina são as famílias, escolas, amigos, igrejas e trabalho.
Padrões de comportamento que se replicam em todas as áreas de nosso viver, mesmo que nos mudemos dela: casamento a casamento, amigo a amigo, trabalho a trabalho, cidade à cidade, etc à etc... tudo repete-se mais cedo ou mais tarde. Pois, a força do hábito não renova a existência dessas vivências, apenas as atualiza, com os mesmos padrões de comportamento do velho - o do já vivido.

Hábitos que vão criando as condições das pessoas ficarem sempre extremamente infelizes.
Falo "extremamente", pois um pouco de infelicidade é sinal, também, de saúde mental.

A tristeza eventual e em episódios de luto, e as dificuldades, fazem parte do pacote do viver, e temos que beber desse cálice.

Sem querer esvaziar o tema, enumerarei nos próximos posts, os sete hábitos para a infelicidade, que precisamos desaprender urgentemente, tal qual o exemplo do hábito de dormir até mais tarde, re-aprendido nas férias de alguns.

Conversar sobre esse tema, para mim, é uma questão de cidadania, de engajamento na busca de uma saúde coletiva de maior bem-estar.  Nos tempos atuais, testemunhamos uma epidemia de falta de sentido na vida - com multidões de homens-zumbis carregando os fardos de sua existência, cujos hábitos moldaram estilos de vida calcados fundamentalmente no ter, prazer e poder, levando-lhes à uma frustração de sentido.  Aprender novos hábitos de vida, ao desaprender os hábitos de morte, faz-se urgente e necessário ao bem viver. Trata-se de uma questão de saúde e de educação social.

terça-feira, 11 de abril de 2017

O Humano do Digital - Por Ricardo de Faria Barros (*)


Qual é o Humano do digital, nas Competências para o negócio e trabalho, nos tempos atuais?

Com essa pergunta, abrirei minha participação no Segundo Fórum Trilhas de Aprendizagem: Gestão por Competência em Empresas Públicas e Privadas, que acontecerá em Brasília, de 12 a 13/09/2017, produzido pela Inteletto. (www.inteletto.com)

Antecipo algumas reflexões que ali serão proporcionadas. Nunca esquecerei o dia em que meu gerente perguntou se eu tinha WhatsApp, em setembro de 2013. E, até parece que foi no século passado. Olhei para ele, totalmente “ignorante" no assunto, e com a minha melhor cara de paisagem soltei um: “Uotezape o que?”, eu não sabia o que era aquilo, e estava à margem daquele mundo digital.
Chamei um estagiário que passava por perto, pedindo-lhe que me ensinasse o tal do “uot”, e aprendi.
Hoje, de meus pais à Casinha Mineira, aqui no DF, todo mundo “Uota” pra todo mundo.
Com ele negócios são fechados, namorados namoram, famílias se reencontram, amigos interagem, e até trabalho são trabalhados.
O celular virou algo que até dá para nele se telefonar. Mas, isso deixou de ser o seu atributo principal. Quem diria!
Nessa sociedade conectada e em rede, as possibilidades de novos negócios, interação social, produção de conhecimentos e co-criação de bens, produtos e serviços, avançam a passos largos. Com forte impacto no desenvolvimento de competências, e até nos modelos de negócios, como exemplo o dos Bancos.
Sem prejuízo de outras competências, e sem querer esgotar um tema tão rico, listo quatro competências com “viés de alta” na economia digital em que vivemos:

1. Comunicação Não-Violenta - Desenvolver uma comunicação de qualidade, empática e eficaz com os outros, fazendo as devidas distinções entre: observações e juízos de valor; opiniões e sentimentos; necessidades e estratégias; pedidos e exigências. Ela se expressa também em práticas restaurativas de administração de conflitos. Essa talvez seja a mais catalisadora e humana das competências oriundas da nova economia digital.

2. Letramento Digital - Ser capaz de buscar, avaliar, criar, distribuir e operar as mais diversificadas fontes e canais tecnológicos, cada vez mais será uma das fontes de riqueza das organizações. Explorar e aproveitar as potencialidades das mídias e redes sociais, da web, das plataformas de interação e dos sistemas eletrônicos de automação produtiva virou a regra, não mais a exceção. Na sociedade digital, não há mais separação entre presencial e virtual. O negócio e trabalho acontecem em todo lugar, e a todo momento, exigindo um contínuo processo de desenvolvimento nas competências técnicas e humanas. Saber aproveitar os mais diversificados recursos de interação e de posicionamento empresarial, com uso dos canais tecnológicos, poderá fazer a diferença na competitividade empresarial.

3. Interação Produtiva Apreciativa – Seria como se pudéssemos combinar o trabalho em equipe, o relacionamento interpessoal e a produtividade. O fazer coletivo supera o paradigma do espaço x tempo, com atuações inovadoras em redes coletivas de produção de significados e labor. Ela se expressa na capacidade de compartilhar competências em busca de objetivos comuns, apreciar as contribuições dos outros, acolhendo-as e em cima delas operar, interagir positivamente com pessoas e em ambientes, e na construção coletiva de soluções de bens, produtos ou serviços maximizando a experiência do cliente. Crescerão os espaços pedagógicos de Design Thinking (um novo jeito de pensar e abordar problemas, com o pensamento centrado no usuário) na busca por inovações.

4. Artesanato do Sentido e da Resiliência Restaurativa. Equipes menores, demandas maiores, sobrevivência organizacional colocada à prova todos os dias, além de impensáveis entrantes no mercado, impacta diretamente a qualidade do ambiente no qual se configura o trabalho, e a percepção de seu sentido. Portanto, a capacidade individual, ou coletiva, de restaurar o tecido emocional positivo do trabalho, será vital à saúde do trabalhador e ao clima organizacional, com impactos na produtividade. Todos precisarão ficar vigilantes a um possível crescimento do desânimo, intervindo imediatamente nesse processo, antes que ele altere por completo a percepção e satisfação no trabalho, e até venha a degradar o ambiente laboral. Como um trabalho de artesãos, essa competência terá várias formas de se expressar, adequando-se às realidades locais. Mas, em toda as suas formas estará presente o desafio de revestir as coisas de sentido, de recuperar o vigor e ânimo, após o enfrentamento de situações-limites, restaurando o vigor e tenacidade do time.

Nesse particular, a atuação e formação dos gestores será ainda mais vital. Para que no exercício da gestão eles possam desenvolver suas equipes, serem líderes eficazes, procedendo com suas práticas à restauração da resiliência do grupo, e a ressignificação permanente do sentido do trabalho.

Essas quatro competências se combinam sinergicamente potencializando os resultados, uma das outras. Em resumo, os novos tempos que já chegaram, exigirão uma maior capacidade de diálogo com o diferente; aprenderes da gestão social de redes, canais e instâncias digitais que favoreçam o fortalecimento dos elos produtivos; a capacidade de criar coletivamente, tijolo a tijolo, exigindo desapego cognitivo e doação generosa de saberes; e, por último, uma nova postura gerencial, que os times passam a exigir dos líderes, como a de serem artesãos do sentido do trabalho e fomentadores da renovação da resiliência, individual ou coletiva.

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O autor é professor do IBMEC, aposentado do BB, proprietário da Ânimo – Desenvolvimento Humano; Autor dos livros: Sobre a Vida e o Viver, e, Apanhadores de Possibilidades nos Campos do Infinito; Psicólogo (UEPB), Mestre em Gestão Social e Trabalho (UNB), Especialista em Gestão de Pessoas (USP) e membro da Associação Internacional de Psicologia Positiva. Publica seus textos também no blog de desenvolvimento pessoal e profissional em: https://bodecomfarinha.blogspot.com.br .

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Sabotadores Atitudinais do Desempenho Profissional (Autor Ricardo de Faria Barros)

Durante a carreira profissional, pode-se sentir em maior ou menor grau a força de sabotadores que afetam diretamente o desempenho no trabalho. Verdadeiros vilões da entrega de resultados organizacionais.
Destaco alguns, para os quais deveremos ter muito cuidado e vigiar a sua evolução, agindo de imediato sobre eles, para reduzir seu crescimento e a intensidade de sua força.

a. O Distraidor – O acesso a inúmeras formas de comunicação e interação social, mediados pelos dispositivos móveis e computadores, pode estar gerando uma enorme dispersão e perda de produtividade no trabalho. Tirando o profissional do foco e o distraindo dos objetivos do trabalho. Alia-se a esse fenômeno os espaços coletivos de produção, desafio crescente à concentração nas atividades. E, de interrupção em interrupção, para acessar Facebook, WhatsApp, Instagran, Twiter, Snap e o escambau perde-se o fio da meada do que estava sendo feito. Ou até sobra para o cliente. E o rendimento é afetado por tantas paradas para acessar as mensagens, ler um monte de e-mails: “Para conhecimento”, etc. O pior é que esse sabotador nos faz crer num falso poder que temos de nos desligarmos do trabalho, sem se perder do caminho que estávamos trilhando, ao para ele voltar. Alguns, ainda se sentem culpados por não responderem ou olharem as mensagens on-line que recebem. E até são cobrados por isso pela sua rede. Como se tivéssemos que estar 100% on-line para os amigos. E o vício digital se estabelece, ficando dependente de interações comunicativas, de toda natureza e origem. Sem criar limites, regras e barreiras ao seu consumo. O distraidor sabota nossa concentração.

b. O Prorrogador – É aquele sabotador que atua em nós distorcendo a percepção do tempo, adiando o que está para se fazer. Ele gera uma falsa sensação de controle sobre o risco, dos adiamentos do que é preciso ser feito. E aí, as coisas vão se acumulando, gerando nesse profissional a sensação de que os dias não tem horas suficientes e que ele sempre está em atraso com o relógio, com a vida e com ele mesmo. As coisas vão se acumulando, para amanhã serem feitas. Com o tempo, esse profissional fica desacreditado do grupo. E passa a ser visto como alguém que não cumpre prazos, ou que não cumpre o que prometeu, sempre com um bom motivo para adiar. E, de procrastinar em procrastinar, ele fica craque em terceirizar culpas e não assumir responsabilidades. O bom procrastinador sempre tem uma boa desculpa para nela se apegar, tornando-se expert em justificativas pelos não feitos, não entregues. O prorrogador atua sabotando resultados.

c. O Iletrado Emocional – É o terceiro vilão das carreiras. O trabalhador deixa de se evoluir nas competências da inteligência emocional. Esse sabotador se manifestará na redução das práticas de empatia, de interação social positiva, de resiliência laboral e de bem-estar emocional. Desenvolvendo-se apenas nas competências técnicas, relativizando aquelas de natureza comportamental. Desaprende a conviver, a ser flexível, tenaz e cooperativo. Sob estresse, explode facilmente. E vive manipulando as pessoas, ou oprimindo-as. Adora cultivar emoções ruins. E o próprio grupo o tem como depósito ou porta-voz de notícia negativa. E ele aceita esse papel. Com o tempo, ele vira um reclamão e rabugento, nada mais estando bacana com ele, com o outro, ou com a realidade. O Iletrado Emocional atua sabotando a motivação.

d. O Apático – É o quarto vilão. Quando ele atua o trabalhador deixa de sentir tesão em perseguir metas, em procurar oportunidades de carreira, em se capacitar, e até em aprimorar processos. Ficando com sua existência embotada. No piloto automático da vida. Esse vilão age pela apatia. Esse talvez seja o sabotador menos visível e o mais difícil de ser detectado. Exige autoconhecimento. O pior é que esse sabotador atua desligando esse termômetro interior, e a pessoa perde a consciência do que lhe está ocorrendo. Ela precisa de ajuda, mas não pede. E, paulatinamente, essa raiz da apatia vai se embrincando em tudo. Tendo como um de seus combustíveis a tensão negativa, entre as expectativas e a realidade. Ansiando, de forma extremamente idealizada, por: colegas diferentes, chefias, empresa e até o próprio trabalho. Aí, ao não receber o que espera, se frustra e vai ficando cada vez mais murcho, desanimado, apático. O apático encontra na realidade as razões para desistir de fazer e acontecer, de mudar, de mudar a realidade, ou se mudar dela, terceirizando seu bem-estar e motivação no trabalho às circunstâncias, aos outros, ou à Instituição. O Apático atua sabotando a energia interior.

Sem prejuízo de outros, considero que esses sabotadores são os mais comuns no ecossistema profissional na atualidade. E que precisam de respostas imediatas e cotidianas, dos afetados por eles. Sendo o primeiro passo a identificação da intensidade, e de que maneira ele impacta o trabalho. Reconhecer sua atuação sobre nossas carreiras, é o primeiro passo para diminuir a intensidade de sua sabotagem sobre nós. Reconhecer, para neles operar, e criar forças para mudar. Caso contrário, eles criarão raízes que dificultarão o desenvolvimento do potencial humano.

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O autor é professor do IBMEC, aposentado do BB, proprietário da Ânimo – Desenvolvimento Humano; Autor dos livros: Sobre a Vida e o Viver, e, Apanhadores de Possibilidades nos Campos do Infinito; Psicólogo (UEPB), Mestre em Gestão Social e Trabalho (UNB), Especialista em Gestão de Pessoas (USP) e membro da Associação Internacional de Psicologia Positiva. Publica no blog de desenvolvimento pessoal e profissional em:https://bodecomfarinha.blogspot.com.br

segunda-feira, 27 de março de 2017

Tornei-me gerente, e agora? (Autor Ricardo de Faria Barros)

No mundo corporativo, essa pergunta é mais comum do que se pensa. Infelizmente, na maioria das vezes, galga-se da carreira técnica para a gerencial sem um capital humano, de competências gerenciais, previamente desenvolvido.
Compartilho algumas das possíveis respostas à essa pergunta, sem pretensão de esgotar um tema tão rico e complexo:
1. Lidere pelo exemplo. Você pode até não perceber, mas todos os dias é observado e gera influência sobre seu grupo. Que sejam influências positivas! Chego a dizer que após um certo tempo de gestão, nossas equipes têm muito de nosso estilo. Se você prega a necessidade de fazer parcerias internas, e ao primeiro estresse com um gestor de outra área, perde as estribeiras (o controle emocional), que tipo de postura vai querer de sua equipe, quando ela lidar com situações similares?
2. Busque ajuda. Sua formação não terminou com a ascensão a um cargo gerencial. Aliás, a boa notícia é que ela não termina nunca. Escolha gestores mais experientes para com eles fazer uma espécie de orientação de carreira. Aliado a isso, estude. Existem excelentes treinamentos e literatura no mercado, invista neles.
3. Cuidado com a palavra escrita. Ela não tem rosto. Pense muitas vezes antes de escrever algo. No limite, caso aborrecido, deixe para fazer no outro dia. Isso vale para WhatsApp também.
4. Forme sua equipe, eles não estão prontos, embora possam ter muita experiência em alguns processos. Estamos sempre construção, inacabados. Você é o principal responsável pelo desenvolvimento de competências de seu time. Não terceirize essa função para o pessoal do RH.
5. Decida. Não confunda fazer gestão com assédio moral. Cobrar desempenho, resultados, disciplina e postura não é assédio moral. É gestão. Contudo, dependendo da forma como faça, será! Cuide da forma. Nunca atente contra a dignidade e honra de seus liderados, achando que com isso irá “corrigi-los”, ou motivá-los.
6. Oriente. Utilize-se de uma boa comunicação para orientar o time. E, quando as coisas estiverem saindo dos eixos, use o feedback do tipo “botar bom ar”, coletivamente ou individualmente. Chamo a isso de feedback qualificador. Imagine que você tem um funcionário que está constantemente disperso com assuntos pessoais.
- No feedback “tirar mau cheiro”, você diz assim: “Você vive trazendo problemas pessoais para o trabalho, disperso e teclando nesse seu celular, e o serviço está atrasado.”
- No feedback “botar bom ar”, você diz assim: “Preciso de você mais focado no trabalho, mais concentrado e atento, entregando os trabalhos no prazo.
O primeiro enfatiza o que está errado. O segundo, o que precisa acontecer. Entendeu?
7. Reconheça. Não pense que o seu pessoal já sabe que você gostou de determinado desafio, entregue com excelência. Eles não têm o dom da telepatia. Então, não se envergonhe de dizer-lhes o quanto foi legal o que fizeram. Se expresse, fale, abrace e registre. E, não espere que um Programa de Reconhecimento faça isso por você.
8. Celebre. Não esqueça de comemorar as pequenas, ou grandes, vitórias. Leve uma “Sidra”, chame o pessoal para um brinde. Toque até uma campainha de bicicleta, mas nunca se esqueça de comemorar o gol que fizeram, ou que defenderam. E existem os quase gols também. Que valem um viva!! Mesmo sem a bola ter entrado.
9. Integre. Não descuide da socialização de seu time. Promova festinhas de aniversário, cafés da manhã. Não faça gestão colocando uns contra os outros. Uma das maiores dificuldades da adaptação ao trabalho é a integração social.
10. Compartilhe a Gestão. Todo mundo gosta de participar, de se envolver com a discussão de melhorias para o negócio ou processos. Cultive espaços do pensar e agir coletivos.
A lista de dicas práticas não para por aí. Mas, agora é contigo! Continue a escrevê-las!
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(*) O autor é professor do IBMEC, aposentado do BB, proprietário da Ânimo – Desenvolvimento Humano; Autor dos livros: Sobre a Vida e o Viver, e, Apanhadores de Possibilidades nos Campos do Infinito; Psicólogo (UEPB), Mestre em Gestão Social e Trabalho (UNB, Especialista em Gestão de Pessoas (USP) e membro da Associação Internacional de Psicologia Positiva. E autor de blog de desenvolvimento pessoal e profissional em: https://bodecomfarinha.blogspot.com.br .

sexta-feira, 24 de março de 2017

Aposentadoria - Prevenção ao Adoecimento Emocional (Autor Ricardo de Faria Barros)

Nos últimos meses, o número de pessoas ingressando na aposentadoria tem aumentando em nosso país. Essa expansão dos aposentados está sendo alavancada pelo medo da mudança nas regras da previdência oficial, estimulando as pessoas que já tinham esse direito à anteciparem sua decisão; Além dos programas de incentivo à aposentadoria, recém-lançados por grandes corporações nacionais, em busca de uma maior eficiência operacional, para sobreviverem a um ambiente de negócios com viés de baixa.
Esse tema me seduz, desde que concluí minha formação de psicólogo, no século passado.
Eu era recém-formado, trabalhava no Banco do Brasil, e naqueles anos de 1995-96 o BB lançou seu maior programa de Demissão Voluntária, com quase 30.000 pessoas "aderindo" a ele.
Aí vi e ouvi de tudo, já com a percepção seletiva de psicólogo. Tantos relatos bons, como relatos não tão bons, em sua grande maioria, de pessoas com dificuldade de adaptação à vida no outro lado da margem de si mesmo, agora a do CPF, no lugar do CNPJ.
Naquela década, também vivi em casa esse fenômeno. Vendo como meu pai e mãe se adaptavam, após longas carreiras no Senai-PB, 45 e 40 anos, respectivamente.
Recolhendo esse material vivencial e estudando sobre o assunto, passei a escrever sobre o tema e ministrar palestras nos éticos e bem-vindos Programas de Preparação à Aposentadoria.
 Costumo iniciar a palestra com o enigma da Esfinge de Tebas. Até brinco com os participantes, dizendo que quem acertá-lo terá uma maior qualidade de vida no pós-carreira.
Após o frisson das "férias" de uns 90 dias, a poeira baixará e o aposentado precisará "entrar em Tebas", atravessando um portal vigiado pela monstruosa Esfinge. Só passa pelo Portal do bem-estar quem acerta ao enigma que ela propõe. Caso contrário, ela comerá o peregrino.
O enigma era esse:
“Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?
Na mitologia, foi Édipo quem resolveu a charada:
"O Homem — engatinha como bebê, anda sobre dois pés na idade adulta, e usa um arrimo (bengala) quando é ancião."
Nas palestras que conduzo costumo dizer que Édipo errou a resposta, em se tratando de uma pós-carreira e aposentadoria de qualidade.
E que no lugar da bengala, a resposta certa é um cajado.
Trocar a bengala por um cajado fará toda a diferença na aposentadoria. Entenda a metáfora, não estou criticando quem usa bengala, por amor de Deus!
O cajado aponta caminhos, conduz sonhos, abre veredas, afasta temores. Quem segue com um cajado, segue à frente de seu tempo.
Aposentados-Cajado entendem que há muita vida a ser vivida ainda, pelo menos uns bons 20 anos. Muito conhecimento a ser conhecido, muitas aventuras, muitos sonhos a serem sonhados, ou tirado das nuvens, muitas sementes a plantar, muitas pessoas a cuidar e outas a vir a conhecer.
Ontem almocei com um desses aposentados-cajado. Descobriu uns sites de treinamentos pela WEB e já fez curso de fotografia à culinária.
Esse é o segredo de uma maior qualidade de vida na aposentadoria: não parar de se movimentar. Tanto biologicamente, como socialmente e psicologicamente falando.
Não entender que a vida chegou a fim, como fruto do processo de luto e morte social que está vivendo, é determinante para erguer o cajado e caminhar.
Esse processo de luto, e quase morte social, é universal. Inúmeros autores registram esse momento como um dos lutos mais significativos da vida humana, com consequente erosão nos relacionamentos sociais, que acontece na margem de lá, a do CNPJ.
Então, a dica é não se aposentar de si mesmo.
Deixo-vos com algumas coisas que falo na clínica e palestra e têm dado resultados.
a. Compre uma agenda, usando o capital-tempo a seu favor. Nela, preencha as páginas em branco com coisinhas legais para fazer a si mesmo, ao outro e na realidade onde mora. Tipo visitar um parque que nunca foi.
b. Continue a participar da vida, seja em ocupações remuneradas, seja noutras voluntárias. Até em rodadas de dominós vale participar.
 c. Se vincule a outros grupos sociais. Gente cura gente.
d. Cuide da saúde nos seus aspectos bio-psico-sócio e espiritual.
e. Esteja sempre fazendo algo, nem que seja arando o jardim da praça. Ou escrevendo a biografia da família.
O segredo para o bem-estar no pós-carreira é não vestir pijamas.
Um amigo, o médico Leandro Minozzo produziu um livro exatamente com esse título: Não se aposente, e disponibiliza a versão digital gratuitamente, nesse link:
http://www.leandrominozzo.com.br/presente-especial-dia-do-…/
Também deixo leitura complementar, como fruto de minha prática terapêutica junto ao grupo de aposentados, parte integrante de um livro que escrevo. São os capítulos das “síndromes” emocionais negativas que precisamos aprender a superá-las.
A do ninho vazio: http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/aposentavel-decifra…
A de abstinência à vida corporativa: http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/2014/05/savc.html
A da alienação fantástica:
http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/livro-aposentavel-d…
E a do tempo elástico, que recomendo e insisto que comece lendo ela.
http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/aposentado-ou-quase…
Vamos lá, erga seu cajado e siga corajoso. Há trabalho na empresa vida, esperando por você.
Em tempo: Em breve montaremos Grupos de Apoio para facilitação do processo de adaptação à aposentadoria, aqui em Brasília.
(*) O autor é professor do IBMEC-DF, psicólogo (CRP 01/7844), proprietário da Ânimo – Desenvolvimento Humano; Autor dos livros: Sobre a Vida e o Viver, e, Apanhadores de Possibilidades nos Campos do Infinito, Membro da Associação Internacional de Psicologia Positiva, Mestre em Gestão Social e Trabalho (UNB) e Especialista em Gestão de Pessoas (USP).
Contatos com o autor: ricardodefariabarros@gmail.com
Na foto, o dia de minha aposentadoria.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Do EPI ao EPE: Prevenção à Insalubridade Emocional.

Imagem: Site Silvia Pereira

No final do ano passado, fui convidado pela CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes para conduzir uma palestra na Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho – SIPAT, realizada por uma grande empresa brasileira, com negócios na área de Tecnologia e Serviços, a BB Tecnologia e Serviços. A palestra foi num de seus Centros, em Goiânia-GO.

Em contato com os organizadores, descobri que haveria antes da minha palestra uma outra versando sobre a importância do uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI).

Então, tive um estalo inspirador - aquele breve instante de criação no qual tocamos o infinito e ficamos excitados. Pensei comigo, vou levar para aqueles trabalhadores o tema:

“Insalubridade Emocional no Trabalho e o uso dos EPE.”


Propositadamente, não revelei o que significava EPE para aumentar a expectativa e poder de “venda”. Os Cipeiros sofrem para mobilizar o pessoal para as atividades, e acreditei que a curiosidade iria contribuir com uma maior adesão.

E deu certo. Na hora da palestra a sala estava lotada, até botaram umas cadeiras extras nos corredores.
Comecei explicando o que EPE significaria na palestra: Equipamentos de Proteção Emocional, contextualizando o tema dentro das mutações comportamentais que venho percebendo na sociedade, e que explodem nas organizações do trabalho.
O mundo do trabalho não é um mundo à parte da sociedade. Nele desaguam valores, ou falta de valores; atitudes, ou falta de atitudes; ética, ou falta de ética que habitam o tecido social da coletividade.

E, convenhamos, amigo leitor, os tempos são áridos em se tratando de emoções positivas: aquelas que constroem espaços de convivência e harmonia entre os povos.
Esse ambiente insalubre, do ponto de vista comportamental, é agravado pela crise institucional, econômica e política pela qual passamos.
O mundo do trabalho sofre então com a ameaça do desemprego, rondando a cabeça do trabalhador todos os dias; com o enxugamento de quadros aumentando a sobrecarga laboral; e com a ampliação das metas de produtividade e desempenho profissional, conduzidas por uma gestão, muitas das vezes, que mais amedronta do que lidera
Em ambientes de muita pressão ficamos regidos por dois hormônios: cortisol e adrenalina. São hormônios da sobrevivência, que foram fundamentais na história da humanidade.

Contudo, em excesso, eles consomem energia emocional positiva e inviabilizam o cultivar dos valores/atitudes de paz, justiça, colaboração, esperança, bondade, mansidão, solidariedade, empatia, cooperação, amorosidade, flexibilidade cognitiva, perdão, respeito e gentileza
Em ambientes de insalubridade comportamental, nosso cérebro reptiliano ativa os modos comportamentais: atacar, defender ou fugir, e perdemos a capacidade de transcender, de fluir, de ver o que nos ocorre por uma perspectiva diferenciada, mais ampla e contextualizada.
Então, adoecemos emocionalmente, ou fazemos o outro adoecer.
Como resultado desse nefasto processo, os valores/atitudes acima descritos vão sendo postos à prova e se não tivermos cuidado, paulatinamente vão degradando, e vamos ficando iguais aos que recriminamos, aprendendo a ser como eles por osmose.
Os valores funcionam como nosso GPS comportamental que apontam caminhos possíveis, quando tudo lado são incertezas. Quando nos perdemos deles, nossa nau fica à deriva.

Na minha experiência profissional, clínica e em sala de aula, tenho ouvido relatos do mundo do trabalho que mais parecem um filme de terror. Daqueles de péssimo gosto.
De pessoas que estão convivendo com gente perversas, ruins, sádicas e medíocres emocionalmente.
Muitas delas, ingressando nas organizações de trabalho já com esse aprendizado moldado em seu ser. Fruto da falência da disseminação de valores positivos na família, escola e outras Instituições de aprendizado para uma saudável coletivo-vivência social.
Aprende-se então a ser rabugento, crítico, negativo, mimado, perverso, sem limites, e um ser de ego hiper-inflado, que exige que o mundo gire em torno de si e lhe sirva, desde pequeno.
E, esse aprendizado quando se defronta com a nova realidade do mundo do trabalho, altamente competitivo e inseguro quanto ao futuro, encontra terreno fértil para seu desenvolvimento.
E o que mais escuto hoje, até em atendimentos na minha clínica, são trabalhadores infelizes e que perderam o encantamento com o outro, com a empresa e até com eles mesmos.
Estão adoecendo e perdendo o viço, ao habitarem nesse ecossistema comportamental com tantas feras à solta.
Ou, o pior, tornando-se mais uma dessa feras. De gente que não sabe conviver com gente, principalmente se ver nela algo diferente. De gente que passa o dia procurando razões para ser infeliz, e o pior é que acha mesmo. De gente extremamente negativa, rabugenta e reclamona. Gente que que tecla o modo de percepção negativo da vida, e não mais sabe viver de outra maneira senão nesse modo. Vendo em tudo, nele mesmo, e nos outros, fenômenos que justifiquem esse seu processar da vida, de forma reducionista e amargo. Afinal, nossa percepção é seletiva e é orientada pelos nossos esquemas de pensamento sobre nós mesmos, os outros e a realidade.
Na palestra, nas aulas e na clínica costumo prescrever três “equipamentos de proteção emocional”, úteis à prevenção da saúde emocional.

O primeiro deles é o da autoconsciência da pessoa que estamos nos tornando, do que realmente queremos ser, e do que de bom deixamos esquecidos no porão de nossas vidas. Crescer em valores e atitudes positivas é uma decisão que subverte a ordem reinante. A natureza das coisas e dos dias. Doerá. Crescer dói, mas liberta-nos de ser cópias de nós mesmos, dos outros e da realidade.

O segundo deles é reaprender a prestar atenção ao bom, belo e virtuoso que ocorre nas beiradas do viver. Lá na avenida do contorno de nossos corações. No modo defender, atacar ou fugir, concentramo-nos nas aflições do cotidiano e perdemos capacidades de ver às flores à beira do caminho. Apesar da estrada estressante pela qual passamos. Ao expandir as fronteiras de nossa consciência, de nossos pensamentos, ativando um modo de percepção seletiva das coisas boas que apesar dos pesares ainda nos ocorrem, mesmo que nas extremidades de nossa vida, acabamos por oxigenar nosso existir.

Por último, é aprender a vigiar os nossos pensamentos ruins, ficar de tocaia sobre eles, observando-lhes chegar e sobre eles agir. Tal qual faz o Olheiro, ficando acima dos montes e do alto anunciando aos pescadores, ancorados em terra, que vem entrando um cardume de tainhas (Prática como na pesca da tainha, em Santa Catarina-SC) e que eles podem lançar suas barcas e redes ao mar. Essa postura de anatomista de nossos pensamentos é fundamental para não “ficarmos como eles”, e eu diria, até piores. Ser vigia de pensamento ruim é aprender a debater consigo mesmo, colocando as coisas noutras perspectivas, mais amplas, menos doloridas, com menos vitimização ou visão negativa, volto a dizer: de nós mesmos, dos outros e ou da realidade.

Esses três equipamentos darão a força necessária para não adoecer no ambiente de trabalho, e até em promover mudanças que melhorem a qualidade de vida no trabalho, o clima organizacional, repercutindo positivamente na percepção dos sentidos e significado do trabalho.

Quanto às feras emocionais que contigo dividem a baia, caso elas não mudem, mude a si mesmo, e com um gostinho de coragem e um risinho no canto dos lábios, diga a si mesmo: “pelo menos não sou, não serei, não faço, não farei, como ele.”

Pois, ainda sinto que em mim e nele habita um ser humano, digno de respeito, misericórdia e atenção.

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