segunda-feira, 27 de março de 2017

Tornei-me gerente, e agora? (Autor Ricardo de Faria Barros)

No mundo corporativo, essa pergunta é mais comum do que se pensa. Infelizmente, na maioria das vezes, galga-se da carreira técnica para a gerencial sem um capital humano, de competências gerenciais, previamente desenvolvido.
Compartilho algumas das possíveis respostas à essa pergunta, sem pretensão de esgotar um tema tão rico e complexo:
1. Lidere pelo exemplo. Você pode até não perceber, mas todos os dias é observado e gera influência sobre seu grupo. Que sejam influências positivas! Chego a dizer que após um certo tempo de gestão, nossas equipes têm muito de nosso estilo. Se você prega a necessidade de fazer parcerias internas, e ao primeiro estresse com um gestor de outra área, perde as estribeiras (o controle emocional), que tipo de postura vai querer de sua equipe, quando ela lidar com situações similares?
2. Busque ajuda. Sua formação não terminou com a ascensão a um cargo gerencial. Aliás, a boa notícia é que ela não termina nunca. Escolha gestores mais experientes para com eles fazer uma espécie de orientação de carreira. Aliado a isso, estude. Existem excelentes treinamentos e literatura no mercado, invista neles.
3. Cuidado com a palavra escrita. Ela não tem rosto. Pense muitas vezes antes de escrever algo. No limite, caso aborrecido, deixe para fazer no outro dia. Isso vale para WhatsApp também.
4. Forme sua equipe, eles não estão prontos, embora possam ter muita experiência em alguns processos. Estamos sempre construção, inacabados. Você é o principal responsável pelo desenvolvimento de competências de seu time. Não terceirize essa função para o pessoal do RH.
5. Decida. Não confunda fazer gestão com assédio moral. Cobrar desempenho, resultados, disciplina e postura não é assédio moral. É gestão. Contudo, dependendo da forma como faça, será! Cuide da forma. Nunca atente contra a dignidade e honra de seus liderados, achando que com isso irá “corrigi-los”, ou motivá-los.
6. Oriente. Utilize-se de uma boa comunicação para orientar o time. E, quando as coisas estiverem saindo dos eixos, use o feedback do tipo “botar bom ar”, coletivamente ou individualmente. Chamo a isso de feedback qualificador. Imagine que você tem um funcionário que está constantemente disperso com assuntos pessoais.
- No feedback “tirar mau cheiro”, você diz assim: “Você vive trazendo problemas pessoais para o trabalho, disperso e teclando nesse seu celular, e o serviço está atrasado.”
- No feedback “botar bom ar”, você diz assim: “Preciso de você mais focado no trabalho, mais concentrado e atento, entregando os trabalhos no prazo.
O primeiro enfatiza o que está errado. O segundo, o que precisa acontecer. Entendeu?
7. Reconheça. Não pense que o seu pessoal já sabe que você gostou de determinado desafio, entregue com excelência. Eles não têm o dom da telepatia. Então, não se envergonhe de dizer-lhes o quanto foi legal o que fizeram. Se expresse, fale, abrace e registre. E, não espere que um Programa de Reconhecimento faça isso por você.
8. Celebre. Não esqueça de comemorar as pequenas, ou grandes, vitórias. Leve uma “Sidra”, chame o pessoal para um brinde. Toque até uma campainha de bicicleta, mas nunca se esqueça de comemorar o gol que fizeram, ou que defenderam. E existem os quase gols também. Que valem um viva!! Mesmo sem a bola ter entrado.
9. Integre. Não descuide da socialização de seu time. Promova festinhas de aniversário, cafés da manhã. Não faça gestão colocando uns contra os outros. Uma das maiores dificuldades da adaptação ao trabalho é a integração social.
10. Compartilhe a Gestão. Todo mundo gosta de participar, de se envolver com a discussão de melhorias para o negócio ou processos. Cultive espaços do pensar e agir coletivos.
A lista de dicas práticas não para por aí. Mas, agora é contigo! Continue a escrevê-las!
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(*) O autor é professor do IBMEC, aposentado do BB, proprietário da Ânimo – Desenvolvimento Humano; Autor dos livros: Sobre a Vida e o Viver, e, Apanhadores de Possibilidades nos Campos do Infinito; Psicólogo (UEPB), Mestre em Gestão Social e Trabalho (UNB, Especialista em Gestão de Pessoas (USP) e membro da Associação Internacional de Psicologia Positiva. E autor de blog de desenvolvimento pessoal e profissional em: https://bodecomfarinha.blogspot.com.br .

sexta-feira, 24 de março de 2017

Aposentadoria - Prevenção ao Adoecimento Emocional (Autor Ricardo de Faria Barros)

Nos últimos meses, o número de pessoas ingressando na aposentadoria tem aumentando em nosso país. Essa expansão dos aposentados está sendo alavancada pelo medo da mudança nas regras da previdência oficial, estimulando as pessoas que já tinham esse direito à anteciparem sua decisão; Além dos programas de incentivo à aposentadoria, recém-lançados por grandes corporações nacionais, em busca de uma maior eficiência operacional, para sobreviverem a um ambiente de negócios com viés de baixa.
Esse tema me seduz, desde que concluí minha formação de psicólogo, no século passado.
Eu era recém-formado, trabalhava no Banco do Brasil, e naqueles anos de 1995-96 o BB lançou seu maior programa de Demissão Voluntária, com quase 30.000 pessoas "aderindo" a ele.
Aí vi e ouvi de tudo, já com a percepção seletiva de psicólogo. Tantos relatos bons, como relatos não tão bons, em sua grande maioria, de pessoas com dificuldade de adaptação à vida no outro lado da margem de si mesmo, agora a do CPF, no lugar do CNPJ.
Naquela década, também vivi em casa esse fenômeno. Vendo como meu pai e mãe se adaptavam, após longas carreiras no Senai-PB, 45 e 40 anos, respectivamente.
Recolhendo esse material vivencial e estudando sobre o assunto, passei a escrever sobre o tema e ministrar palestras nos éticos e bem-vindos Programas de Preparação à Aposentadoria.
 Costumo iniciar a palestra com o enigma da Esfinge de Tebas. Até brinco com os participantes, dizendo que quem acertá-lo terá uma maior qualidade de vida no pós-carreira.
Após o frisson das "férias" de uns 90 dias, a poeira baixará e o aposentado precisará "entrar em Tebas", atravessando um portal vigiado pela monstruosa Esfinge. Só passa pelo Portal do bem-estar quem acerta ao enigma que ela propõe. Caso contrário, ela comerá o peregrino.
O enigma era esse:
“Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?
Na mitologia, foi Édipo quem resolveu a charada:
"O Homem — engatinha como bebê, anda sobre dois pés na idade adulta, e usa um arrimo (bengala) quando é ancião."
Nas palestras que conduzo costumo dizer que Édipo errou a resposta, em se tratando de uma pós-carreira e aposentadoria de qualidade.
E que no lugar da bengala, a resposta certa é um cajado.
Trocar a bengala por um cajado fará toda a diferença na aposentadoria. Entenda a metáfora, não estou criticando quem usa bengala, por amor de Deus!
O cajado aponta caminhos, conduz sonhos, abre veredas, afasta temores. Quem segue com um cajado, segue à frente de seu tempo.
Aposentados-Cajado entendem que há muita vida a ser vivida ainda, pelo menos uns bons 20 anos. Muito conhecimento a ser conhecido, muitas aventuras, muitos sonhos a serem sonhados, ou tirado das nuvens, muitas sementes a plantar, muitas pessoas a cuidar e outas a vir a conhecer.
Ontem almocei com um desses aposentados-cajado. Descobriu uns sites de treinamentos pela WEB e já fez curso de fotografia à culinária.
Esse é o segredo de uma maior qualidade de vida na aposentadoria: não parar de se movimentar. Tanto biologicamente, como socialmente e psicologicamente falando.
Não entender que a vida chegou a fim, como fruto do processo de luto e morte social que está vivendo, é determinante para erguer o cajado e caminhar.
Esse processo de luto, e quase morte social, é universal. Inúmeros autores registram esse momento como um dos lutos mais significativos da vida humana, com consequente erosão nos relacionamentos sociais, que acontece na margem de lá, a do CNPJ.
Então, a dica é não se aposentar de si mesmo.
Deixo-vos com algumas coisas que falo na clínica e palestra e têm dado resultados.
a. Compre uma agenda, usando o capital-tempo a seu favor. Nela, preencha as páginas em branco com coisinhas legais para fazer a si mesmo, ao outro e na realidade onde mora. Tipo visitar um parque que nunca foi.
b. Continue a participar da vida, seja em ocupações remuneradas, seja noutras voluntárias. Até em rodadas de dominós vale participar.
 c. Se vincule a outros grupos sociais. Gente cura gente.
d. Cuide da saúde nos seus aspectos bio-psico-sócio e espiritual.
e. Esteja sempre fazendo algo, nem que seja arando o jardim da praça. Ou escrevendo a biografia da família.
O segredo para o bem-estar no pós-carreira é não vestir pijamas.
Um amigo, o médico Leandro Minozzo produziu um livro exatamente com esse título: Não se aposente, e disponibiliza a versão digital gratuitamente, nesse link:
http://www.leandrominozzo.com.br/presente-especial-dia-do-…/
Também deixo leitura complementar, como fruto de minha prática terapêutica junto ao grupo de aposentados, parte integrante de um livro que escrevo. São os capítulos das “síndromes” emocionais negativas que precisamos aprender a superá-las.
A do ninho vazio: http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/aposentavel-decifra…
A de abstinência à vida corporativa: http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/2014/05/savc.html
A da alienação fantástica:
http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/livro-aposentavel-d…
E a do tempo elástico, que recomendo e insisto que comece lendo ela.
http://bodecomfarinha.blogspot.com.br/…/aposentado-ou-quase…
Vamos lá, erga seu cajado e siga corajoso. Há trabalho na empresa vida, esperando por você.
Em tempo: Em breve montaremos Grupos de Apoio para facilitação do processo de adaptação à aposentadoria, aqui em Brasília.
(*) O autor é professor do IBMEC-DF, psicólogo (CRP 01/7844), proprietário da Ânimo – Desenvolvimento Humano; Autor dos livros: Sobre a Vida e o Viver, e, Apanhadores de Possibilidades nos Campos do Infinito, Membro da Associação Internacional de Psicologia Positiva, Mestre em Gestão Social e Trabalho (UNB) e Especialista em Gestão de Pessoas (USP).
Contatos com o autor: ricardodefariabarros@gmail.com
Na foto, o dia de minha aposentadoria.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Do EPI ao EPE: Prevenção à Insalubridade Emocional.

Imagem: Site Silvia Pereira

No final do ano passado, fui convidado pela CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes para conduzir uma palestra na Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho – SIPAT, realizada por uma grande empresa brasileira, com negócios na área de Tecnologia e Serviços, a BB Tecnologia e Serviços. A palestra foi num de seus Centros, em Goiânia-GO.

Em contato com os organizadores, descobri que haveria antes da minha palestra uma outra versando sobre a importância do uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI).

Então, tive um estalo inspirador - aquele breve instante de criação no qual tocamos o infinito e ficamos excitados. Pensei comigo, vou levar para aqueles trabalhadores o tema:

“Insalubridade Emocional no Trabalho e o uso dos EPE.”


Propositadamente, não revelei o que significava EPE para aumentar a expectativa e poder de “venda”. Os Cipeiros sofrem para mobilizar o pessoal para as atividades, e acreditei que a curiosidade iria contribuir com uma maior adesão.

E deu certo. Na hora da palestra a sala estava lotada, até botaram umas cadeiras extras nos corredores.
Comecei explicando o que EPE significaria na palestra: Equipamentos de Proteção Emocional, contextualizando o tema dentro das mutações comportamentais que venho percebendo na sociedade, e que explodem nas organizações do trabalho.
O mundo do trabalho não é um mundo à parte da sociedade. Nele desaguam valores, ou falta de valores; atitudes, ou falta de atitudes; ética, ou falta de ética que habitam o tecido social da coletividade.

E, convenhamos, amigo leitor, os tempos são áridos em se tratando de emoções positivas: aquelas que constroem espaços de convivência e harmonia entre os povos.
Esse ambiente insalubre, do ponto de vista comportamental, é agravado pela crise institucional, econômica e política pela qual passamos.
O mundo do trabalho sofre então com a ameaça do desemprego, rondando a cabeça do trabalhador todos os dias; com o enxugamento de quadros aumentando a sobrecarga laboral; e com a ampliação das metas de produtividade e desempenho profissional, conduzidas por uma gestão, muitas das vezes, que mais amedronta do que lidera
Em ambientes de muita pressão ficamos regidos por dois hormônios: cortisol e adrenalina. São hormônios da sobrevivência, que foram fundamentais na história da humanidade.

Contudo, em excesso, eles consomem energia emocional positiva e inviabilizam o cultivar dos valores/atitudes de paz, justiça, colaboração, esperança, bondade, mansidão, solidariedade, empatia, cooperação, amorosidade, flexibilidade cognitiva, perdão, respeito e gentileza
Em ambientes de insalubridade comportamental, nosso cérebro reptiliano ativa os modos comportamentais: atacar, defender ou fugir, e perdemos a capacidade de transcender, de fluir, de ver o que nos ocorre por uma perspectiva diferenciada, mais ampla e contextualizada.
Então, adoecemos emocionalmente, ou fazemos o outro adoecer.
Como resultado desse nefasto processo, os valores/atitudes acima descritos vão sendo postos à prova e se não tivermos cuidado, paulatinamente vão degradando, e vamos ficando iguais aos que recriminamos, aprendendo a ser como eles por osmose.
Os valores funcionam como nosso GPS comportamental que apontam caminhos possíveis, quando tudo lado são incertezas. Quando nos perdemos deles, nossa nau fica à deriva.

Na minha experiência profissional, clínica e em sala de aula, tenho ouvido relatos do mundo do trabalho que mais parecem um filme de terror. Daqueles de péssimo gosto.
De pessoas que estão convivendo com gente perversas, ruins, sádicas e medíocres emocionalmente.
Muitas delas, ingressando nas organizações de trabalho já com esse aprendizado moldado em seu ser. Fruto da falência da disseminação de valores positivos na família, escola e outras Instituições de aprendizado para uma saudável coletivo-vivência social.
Aprende-se então a ser rabugento, crítico, negativo, mimado, perverso, sem limites, e um ser de ego hiper-inflado, que exige que o mundo gire em torno de si e lhe sirva, desde pequeno.
E, esse aprendizado quando se defronta com a nova realidade do mundo do trabalho, altamente competitivo e inseguro quanto ao futuro, encontra terreno fértil para seu desenvolvimento.
E o que mais escuto hoje, até em atendimentos na minha clínica, são trabalhadores infelizes e que perderam o encantamento com o outro, com a empresa e até com eles mesmos.
Estão adoecendo e perdendo o viço, ao habitarem nesse ecossistema comportamental com tantas feras à solta.
Ou, o pior, tornando-se mais uma dessa feras. De gente que não sabe conviver com gente, principalmente se ver nela algo diferente. De gente que passa o dia procurando razões para ser infeliz, e o pior é que acha mesmo. De gente extremamente negativa, rabugenta e reclamona. Gente que que tecla o modo de percepção negativo da vida, e não mais sabe viver de outra maneira senão nesse modo. Vendo em tudo, nele mesmo, e nos outros, fenômenos que justifiquem esse seu processar da vida, de forma reducionista e amargo. Afinal, nossa percepção é seletiva e é orientada pelos nossos esquemas de pensamento sobre nós mesmos, os outros e a realidade.
Na palestra, nas aulas e na clínica costumo prescrever três “equipamentos de proteção emocional”, úteis à prevenção da saúde emocional.

O primeiro deles é o da autoconsciência da pessoa que estamos nos tornando, do que realmente queremos ser, e do que de bom deixamos esquecidos no porão de nossas vidas. Crescer em valores e atitudes positivas é uma decisão que subverte a ordem reinante. A natureza das coisas e dos dias. Doerá. Crescer dói, mas liberta-nos de ser cópias de nós mesmos, dos outros e da realidade.

O segundo deles é reaprender a prestar atenção ao bom, belo e virtuoso que ocorre nas beiradas do viver. Lá na avenida do contorno de nossos corações. No modo defender, atacar ou fugir, concentramo-nos nas aflições do cotidiano e perdemos capacidades de ver às flores à beira do caminho. Apesar da estrada estressante pela qual passamos. Ao expandir as fronteiras de nossa consciência, de nossos pensamentos, ativando um modo de percepção seletiva das coisas boas que apesar dos pesares ainda nos ocorrem, mesmo que nas extremidades de nossa vida, acabamos por oxigenar nosso existir.

Por último, é aprender a vigiar os nossos pensamentos ruins, ficar de tocaia sobre eles, observando-lhes chegar e sobre eles agir. Tal qual faz o Olheiro, ficando acima dos montes e do alto anunciando aos pescadores, ancorados em terra, que vem entrando um cardume de tainhas (Prática como na pesca da tainha, em Santa Catarina-SC) e que eles podem lançar suas barcas e redes ao mar. Essa postura de anatomista de nossos pensamentos é fundamental para não “ficarmos como eles”, e eu diria, até piores. Ser vigia de pensamento ruim é aprender a debater consigo mesmo, colocando as coisas noutras perspectivas, mais amplas, menos doloridas, com menos vitimização ou visão negativa, volto a dizer: de nós mesmos, dos outros e ou da realidade.

Esses três equipamentos darão a força necessária para não adoecer no ambiente de trabalho, e até em promover mudanças que melhorem a qualidade de vida no trabalho, o clima organizacional, repercutindo positivamente na percepção dos sentidos e significado do trabalho.

Quanto às feras emocionais que contigo dividem a baia, caso elas não mudem, mude a si mesmo, e com um gostinho de coragem e um risinho no canto dos lábios, diga a si mesmo: “pelo menos não sou, não serei, não faço, não farei, como ele.”

Pois, ainda sinto que em mim e nele habita um ser humano, digno de respeito, misericórdia e atenção.

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